No último dia 14 de agosto a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) diante do crescente número de casos de Mpox e do surgimento de uma nova variante desse vírus. Será que estamos diante de uma nova pandemia?
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Declaração de uma ESPII é instrumento gerencial para acionar um alerta global, intensificando as ações de vigilância, prevenção e controle da transmissão global da doença. Isso já foi feito em 2022 quando da rápida disseminação da doença para 72 países, mas foi declarado seu fim em maio de 2023 com a diminuição do número de casos.
Ou seja, o alerta é gerado para criar uma resposta internacional, coordenada e colaborativa, para lidar com a doença e não significa que necessariamente ocorrerá uma nova pandemia.
A Mpox foi detectada pela primeira vez em humanos na República Democrática do Congo, em 1970, e hoje é considerada endêmica em países da África central e ocidental. Segundo a OMS, existem duas cepas geneticamente distintas do vírus, (clados 1 e 2) sendo uma da Bacia do Congo (África Central) e a outra, da África Ocidental.
A primeira pode causar doença mais grave se comparada a segunda. E é essa primeira cepa, ou clado 1 b, que emergiu recentemente na África e fez aumentar tanto o número de casos (18 mil casos) quanto de mortes (615 óbitos).
Situação epidemiológica no Brasil e no RS
O surto apresenta baixo nível de transmissão fora da África até o momento. Segundo o Ministério da Saúde, em 2024, foram notificados 709 casos confirmados ou prováveis da doença no Brasil, sendo 85% do sexo masculino e 42,2% são pessoas que vivem com HIV/Aids. Há nítida concentração na região Sudeste. Os estados de São Paulo (n = 344) e Rio de Janeiro (n = 173) apresentaram os maiores números.
O número é bem menor quando comparado aos mais de 10 mil casos notificados em 2022, durante o pico da doença no país. Desde 2022, foram registrados 16 óbitos, sendo o mais recente em abril de 2023. Até o momento, não há registro de casos da nova variante no Brasil.
No Rio Grande do Sul, o número de casos de Mpox apresentou queda após os 327 casos confirmados em 2022. Em 2023, foram confirmados 9 casos e em 2024 foram 5 casos.
Sobre a doença e como se transmite
Mpox é a sigla adotada pela OMS da anteriormente denominada “varíola dos macacos”, ou Monkeypox (Mpox) da descrição em inglês. A Mpox é, portanto, uma zoonose- “doença ou infecção naturalmente transmissível entre animais vertebrados e seres humanos” (OMS, 2016) – causada pelo vírus monkeypox, do mesmo gênero da varíola, doença que teve seu último caso de transmissão natural no mundo em 1977.
A transmissão para humanos ocorre principalmente por meio do contato próximo e prolongado- beijos e contato íntimo como nas relações sexuais, por exemplo- com pessoas infectadas pela Mpox e que apresentam lesões na pele, bolhas, crostas ou fluidos corporais, como secreções e sangue.
O compartilhamento de objetos contaminados com fluidos de lesões infectantes também pode transmitir a doença.
Os sinais e sintomas podem ser percebidos no período de 3 a 21 dias após o contato com o vírus, e a transmissão da Mpox ocorre desde o surgimento dos primeiros sinais e sintomas até que todas as lesões na pele tenham cicatrizado completamente.
Além das lesões (erupções) na pele, febre, gânglios aumentados, dores no corpo, dor de cabeça e fraqueza são alguns sintomas da doença (como gripe, dengue, covid.). O número de lesões de pele pode ser variável e a área acometida pode ficar restrita àquelas do contato com as lesões que foram fontes da transmissão.
As erupções podem ocorrer na face, boca, tronco, mãos, pés ou qualquer outra parte do corpo, incluindo as regiões genital e anal. Podem ser preenchidas com pus e formam crostas, que secam e caem. Aos profissionais de saúde: quando houver a suspeita de varicela (catapora) – em crianças ou adultos- deve se afastar o diagnóstico de Mpox. Outra doença que se assemelha é a sífilis secundária.
Vacina, prevenção e crítica
Em 2023 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a vacinação contra a Mpox no Brasil de forma provisória. Em 2023, foram distribuídas todas as 49 mil doses das vacinas adquiridas pelo Ministério da Saúde.
A vacina tem disponibilidade limitada, o que dificulta a aquisição do imunizante em todo o mundo. Essa semana a ANVISA renovou a dispensa de registro em caráter excepcional e temporário para duas vacinas de imunização contra o monkeypox no Brasil.
Na última semana, a OMS ativou o processo de inclusão das vacinas contra a doença na lista de uso emergencial. É preciso dizer que os órgãos internacionais falharam e foram omissos para deter a Mpox. Essa doença é conhecida há 5 décadas, a falha fica nítida quando vemos a falta de medidas preventivas como a imunização dos países africanos acometidos na origem da doença. Foi uma lacuna como estratégia global de saúde pública.